São Rafael

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Conheça A Nossa História

Pesquisa e Redação: Miguel Nicácio

Revisão: Arthur Boccia

A Fundação - 1897 a 1951

“Em 1897, na leva da grande imigração em massa que ocorreu na virada do século XIX, desembarcou em Santos um imigrante italiano chamado Rafael Boccia, com apenas 18 anos. Os pertences de Rafael se limitavam a uma caixa de ferramentas e um punhado de dinheiro insuficiente para comprar a passagem de trem até a cidade de São Paulo, onde pretendia se estabelecer e encontrar seus conterrâneos. Mas o rapaz napolitano também trouxe consigo a vontade de se estabelecer e de construir uma vida para si no Novo Mundo, independentemente dos obstáculos que encontrasse pelo caminho.”

Assim, nas próprias dependências do porto de Santos, o jovem passou a oferecer seus serviços de ferreiro e ferramenteiro, consertando as rodas de carroças. O trabalho de Rafael falou por si e ele conseguiu vários clientes, juntando em pouco tempo mais do que o necessário para comprar o bilhete e subir a serra até a capital Paulista.

Desembarque de Imigrantes Italianos no Porto de Santos (1907)

Em 1907, na parte de baixo de um pequeno sobrado na tradicional rua da Consolação em São Paulo, Rafael, agora com 28 anos, inaugurou sua primeira oficina. No início do século XX, o comércio, a construção e a manutenção de carroças eram atividades comuns em muitas cidades e vilas brasileiras, já que a tração animal era amplamente utilizada como meio de transporte. Na época, a Rua da Consolação já era a principal via de acesso à recém-inaugurada Avenida Paulista e à antiga vila de Pinheiros.

Antiga Ladeira da Consolação (1914)

Graças a sua excelente qualidade e, por meio da propaganda boca a boca, as carroças da oficina de Rafael ficaram conhecidas como uma das melhores da cidade. Afinal, mesmo jovem, já era um exímio ferreiro e ferramenteiro, dando continuidade ao ofício que aprendera ainda criança com seu pai em Nápoles. Quanto mais o napolitano trabalhava, mais os clientes chegavam. Assim, ainda no final do primeiro ano de funcionamento da oficina, o imóvel da Consolação já estava pequeno para atender a sempre crescente demanda pelos seus serviços.

Entre centenas de pessoas que passavam diariamente na porta de sua oficina na Rua da Consolação, Rafael Boccia se encantou por uma linda moça de cabelos castanhos e olhos azuis: Natalia Giacometti, também italiana, mas da cidade de Ferrara. Ela vinha de uma família de talentosas costureiras. Sempre muito bem-vestida e elegante, a moça ia todos os dias aos luxuosos casarões da Avenida Paulista para atender suas clientes. Rafael Boccia foi falar com o pai da moça, como mandava a tradição e, em pouco tempo, os dois estavam casados.

Mas não eram apenas as vidas de Rafael e Natalia que passavam por grandes mudanças; a cidade de São Paulo também crescia vertiginosamente a cada dia. Em 1896, a Estrada de Ferro Central do Brasil, antiga Ferrovia Dom Pedro II, passou a atravessar todo Vale do Paraíba, chegando à Estação Norte, atual Estação Brás na capital paulistana, onde a ferrovia se conectava com a estrada de ferro Santos-Jundiaí.

A unificação de toda a malha ferroviária alterou radicalmente a região de chácaras do Brás em dois eixos. O Largo da Concórdia transformou-se rapidamente numa região industrial, com seus imensos barracões ao longo da Santos-Jundiaí. Ao mesmo tempo, o bairro sofreu uma rápida ocupação populacional inicialmente de italianos, espanhóis, portugueses, armênios, gregos e, posteriormente, de brasileiros advindos da região Nordeste.

Atentos às dinâmicas que ocorriam na cidade, Rafael e Natalia perceberam que a região do Brás seria o local ideal para a nova sede da oficina. No local havia uma demanda crescente por transporte de pessoas e mercadorias que chegavam e partiam pelos trens, vindas ou a caminho do interior do estado de São Paulo.

A nova oficina de Rafael ficava próxima à Estação Norte, ao lado da estrada de ferro Santos-Jundiaí, quase em frente ao antigo Teatro Colombo, atual Largo da Concórdia. Rafael e Natalia viviam numa casa no terreno da própria oficina. Os quatro primeiros filhos nasceram nessa época: Antônio, Maria Antonieta, Pedro Francisco e Malvina. Natalia trabalhava na oficina com o marido, ajudando na administração do negócio e no próprio ofício de ferreiro, sem deixar de cuidar da casa, do marido e dos filhos – em um acúmulo de funções típico para as esposas da época.

As carroças do seu Rafael ficaram conhecidas rapidamente, já que eram as únicas feitas em aço e madeira de ipê, o que as tornava extremamente resistentes. A transferência para a região do Brás marcou uma nova fase da oficina, o lugar maior proporcionou uma expansão mais rápida, numa região mais condizente com a procura pelos serviços da empresa.

Contudo, no início da gravidez do último filho homem de Rafael e Natalia, estoura a Revolução de 1932, com as tropas constitucionalistas paulistas chegando pela estrada de ferro Santos Jundiaí e ocupando militarmente toda região.

Toda família e a oficina tiveram que recomeçar do zero, mudando-se para a rua Caquito, na Penha, em busca de segurança. Com o conflito armado, a economia, principalmente na cidade de São Paulo, parou. Naquele ano a alegria da família só veio no fim da Revolução Constitucionalista em meados de novembro e com o nascimento de Amadeo Boccia, o filho caçula.

A procura de um local para a nova oficina, encontraram um bom galpão na Avenida Celso Garcia que ficava próxima a muitos chacareiros que abasteciam o mercado municipal utilizando os bondes. Natalia soube que o terreno pertencia a um próspero comerciante sírio da 25 de Março.

Natalia, desde o início do casamento, aprendera bem o ofício de ferreiro com Rafael. Segundo seu filho Amadeo, a costureira de madames da Avenida Paulista batia “martelo na bigorna” e atravessava São Paulo de bonde de ponta a ponta, com os filhos pequenos, para comprar aço, ferro, carvão coque e bucha de roda. Administrava a oficina da família com esmero, era boa em matemática e negociava tudo na ponta do lápis, ao mesmo tempo que cuidava da casa que ficava no terreno da oficina.

Natalia e Rafael conversaram, e assim ela decidiu pegar o bonde da Penha ao centro. Na rua 25 de Março, encontrou o sírio, Assad Abdalla. Disse-lhe que tinha interesse em alugar o terreno do Parque São Jorge. Explicou bem quem eram ela e o marido e quais eram os planos para aquele imóvel. Deixou claro que não teriam como pagar o primeiro aluguel e não tinham fiador, mas tinham clientes fiéis e eram muito trabalhadores. O comerciante respondeu: “Pega a chave, paga quando tiver dinheiro”. Natália voltou para casa feliz e deu a notícia ao marido.

A mudança da Penha para as imediações do Parque São Jorge, em 1933, foi a maneira encontrada de se reaproximarem da região central de São Paulo e expandir sua clientela. Os negócios não tardaram a melhorar significativamente e o sonho de voltar ao Brás parecia mais próximo. Era questão de tempo até conseguirem ter capital suficiente para uma nova expansão. Nesse meio tempo, a família continuava morando numa casa dentro da oficina. Naquele ano, a família completara-se com o nascimento de Lydia, a filha caçula.

Os filhos do casal desde jovens trabalhavam na oficina, moldando aço para fazer carroças, carregando e cortando grandes tábuas de madeira de ipê e acompanhando a mãe pela cidade em busca de matérias-primas. A rotina era puxada. Amadeo Boccia conta que ia todo dia para uma escola onde só tinha filhos de imigrantes, a Romão Puiggari, no Brás, e que, a partir dos 10 anos de idade, voltava para casa e depois do almoço e de brincar, ajudava a mãe e o pai na oficina até o fim do dia. A família e os negócios prosperavam no local, tanto que, em 1948, Rafael decidiu visitar sua família em Nápoles.

Ao retornar, Rafael foi recebido com uma festa surpresa. Natalia e os filhos pintaram o muro e renomearam o negócio da família para Oficina São Rafael, em honra ao santo padroeiro do marido. A partir daquele momento, além de carroças, a nova São Rafael passava a fabricar carrocerias para caminhões, expandindo-se para um novo mercado promissor, devido ao aumento de transporte de cargas rodoviário.

O casamento sólido de Natalia e Rafael permitiu que cada um desempenhasse seu papel na oficina com cooperação e independência. Natalia tinha habilidades administrativas, mas batia martelo na bigorna e conhecia bem o ofício. Rafael era um exímio ferreiro, que dava conta de executar qualquer encomenda com maestria. A família e os negócios iam muito bem quando, em 1951, Rafael Boccia morreu precocemente, deixando Natalia viúva com seis filhos jovens.

A Segunda Geração - 1951 a 1970

Com a precoce e inesperada morte do marido, Dona Natalia assumiu a administração da São Rafael. Por sua habilidade em planejamento, em compra de materiais de alta qualidade, escuta atenta aos clientes, negociação e entrega de produtos no prazo, qualidades que desenvolveu ainda no seu tempo de costureira, deixou uma marca própria na gestão da empresa. Sob sua direção, a São Rafael passou a fabricar carrocerias para caminhões no começo dos anos 1950 e, em 1960, produziu seu primeiro furgão isotérmico. Natalia, que assumiu a liderança de uma empresa em uma época que era raro as mulheres ocuparem esse papel, trouxe para a São Rafael o espírito tailor-made da alfaiataria e da alta-costura que exige produtos feito sob medida para cada cliente.

A gestão de Natalia passou a ser reconhecida por seus clientes, e a placa da São Rafael passou a conter os seguintes dizeres: “Oficina São Rafael Construções de Carroças e Carrocerias – Razão Social Natalia Giacometti”. A São Rafael da “Natalia Giacometti” tornou-se um nome de destaque no mercado de carroças e carrocerias, sempre entregando produtos de alta qualidade e durabilidade.

Desde seu início, a oficina São Rafael promoveu uma liderança feminina, em um momento da história no qual isso era bem incomum. E colheu os frutos da liderança da Natalia que, em conjunto com os filhos, percebeu que o transporte por caminhões se tornava cada dia mais necessário devido à expansão rodoviária promovida pelo governo de Juscelino Kubistchek.

Em 1960, diante da necessidade de seus clientes transportarem alimentos e outras mercadorias perecíveis, a São Rafael começou a produzir prioritariamente furgões isotérmicos, veículos especialmente adaptados para o transporte de mercadorias que necessitam de temperatura controlada. No final dos anos 1950, Natalia já havia passado a administração aos filhos, mas visitava diariamente a oficina até o dia em que veio a falecer, em 1974, com 82 anos.

A Virada do Século - 1970 a 2000

A terceira geração da família Boccia passou a participar diretamente do dia a dia da administração da empresa em meados dos anos 1970, marcando uma nova era de transformações.

Em 1974-1975, Amadeo Carlos, Augusto Boccia e o primeiro engenheiro da empresa, João Alberto, ingressaram na São Rafael. Eles encontraram uma empresa cheia de oportunidades e liberdade para inovar. Havia muito a ser feito para modernizar a São Rafael e estavam prontos para o desafio.

Em 1974, a São Rafael ampliou seu negócio e começou a fabricar câmaras frigoríficas, que são espaços fechados utilizados para armazenar alimentos e outros produtos em temperaturas abaixo da temperatura ambiente. Amadeo Boccia, sua mulher Ottília Dalman e seu engenheiro-chefe, visitaram a Suécia para conhecer empresas da cadeia do frio e refrigeração, buscando entender melhor toda a linha de produção e fabricação do produto. Nessa época, a empresa também passou a oferecer soluções de refrigeração em fibra de vidro para furgões em todo o país. Com o advento dessa nova tecnologia, a fibra de vidro, a São Rafael se tornou rapidamente o segundo maior player no mercado de fabricação de furgões isotérmicos em fibra de vidro do Brasil.

A primeira câmara fria da São Rafael já era bem diferente das outras disponíveis no país à época. Usualmente, as câmaras, até então, eram feitas de alvenaria, uns quartinhos com porta de madeira. A São Rafael fez uma câmara modular, trazendo inovação, design e inteligência, um produto completamente disruptivo.

Ao mesmo tempo, a empresa passou por uma profunda mudança administrativa, com a criação de departamentos de RH, finanças, gestão e produção. A terceira geração, bem formada e estudada, começou a implementar técnicas modernas e mais eficientes de gestão de empresas.

Em 1979, a empresa começou a trabalhar com o McDonalds, um marco importante que exigiu um salto evolutivo da empresa em termos de tecnologia, processos, gestão e produto.

A gestão de Natalia passou a ser reconhecida por seus clientes, e a placa da São Rafael passou a conter os seguintes dizeres: “Oficina São Rafael Construções de Carroças e Carrocerias – Razão Social Natalia Giacometti”. A São Rafael da “Natalia Giacometti” tornou-se um nome de destaque no mercado de carroças e carrocerias, sempre entregando produtos de alta qualidade e durabilidade.

Desde seu início, a oficina São Rafael promoveu uma liderança feminina, em um momento da história no qual isso era bem incomum. E colheu os frutos da liderança da Natalia que, em conjunto com os filhos, percebeu que o transporte por caminhões se tornava cada dia mais necessário devido à expansão rodoviária promovida pelo governo de Juscelino Kubistchek.

Em 1960, diante da necessidade de seus clientes transportarem alimentos e outras mercadorias perecíveis, a São Rafael começou a produzir prioritariamente furgões isotérmicos, veículos especialmente adaptados para o transporte de mercadorias que necessitam de temperatura controlada. No final dos anos 1950, Natalia já havia passado a administração aos filhos, mas visitava diariamente a oficina até o dia em que veio a falecer, em 1974, com 82 anos.

Crise dos anos 80 a 90: inovação, crescimento e adaptabilidade

A São Rafael enfrentou todas as crises e planos econômicos do Brasil dos anos 1980 e 1990, quando a inflação estava fora de controle e o crédito era caro. A economia brasileira era fechada e era quase impossível importar. No entanto, a empresa conseguiu navegar por essas águas tumultuadas.

Em fevereiro de 1981, Pedro Francisco Boccia vendeu sua parte para seu irmão Amadeo Boccia, que se tornou o único proprietário da empresa.

Em 1982, os novos diretores da empresa, Augusto Boccia e João Alberto, visitaram a sede do McDonald’s em Chicago, com o intuito de estreitar laços com seu principal e melhor cliente.

No final dos anos 1980, a empresa estava passando por uma mudança de local, devido à construção do Parque do Tietê e do prolongamento da Marginal Tietê. O novo zoneamento urbano da cidade de São Paulo não permitia atividade industrial em área de preservação ambiental. Além disso, em 1989, o Plano Collor foi um desastre econômico, com inflação altíssima e falta de controle, inviabilizando o financiamento da empresa. Nesse cenário, a São Rafael decidiu abandonar a fabricação de furgões isotérmicos e fechar a unidade do Cangaíba. Ficou em funcionamento apenas a unidade do Tatuapé, focando inteiramente na fabricação de câmaras frias. Só foram mantidos 40 empregados, após 250 demissões. A empresa enfrentou um dos seus momentos mais difíceis.

Nos anos 1990, o desastroso Plano Collor, por outro lado, promoveu uma abertura inédita da economia, permitindo a importação de equipamentos e aumentando a competitividade dos produtos da São Rafael. Os resultados positivos começaram a aparecer em 1995 quando a São Rafael passa a atender as grandes redes de varejo do Brasil: Lojas Americanas, Carrefour, rede de supermercado Davó e lojas de conveniência, consolidando sua posição no mercado como uma das principais empresas do setor de refrigeração. No final dos anos 1990, a empresa decidiu se concentrar exclusivamente na fabricação de câmaras frias, interrompendo a produção de outros equipamentos.

Em 2007, a São Rafael mudou a sede da sua fábrica, que anteriormente se localizava no bairro do Tatuapé em São Paulo, para a cidade de Arujá, onde passou a produzir soluções para a cadeia do frio dentro e fora do Brasil, atendendo às demandas de seus clientes em toda a América Latina. Hoje, a empresa é reconhecida como uma das principais fabricantes de câmaras frias e soluções de refrigeração, oferecendo produtos de alta qualidade e tecnologia avançada.

Em seus 116 anos de história, a São Rafael Câmaras Frias consolidou-se como uma empresa emblemática, mantendo seu DNA tailor-made e adaptando-se continuamente às demandas do mercado. A capacidade de evolução e inovação permitiu à São Rafael diversificar seus produtos, desde as carroças de madeira até as modernas câmaras frias modulares. Contudo, segundo o atual CEO da São Rafael, Alexandre Boccia, o desafio atual é a “expansão do espírito tailor-made para atender com a mesma qualidade uma variedade ainda maior de consumidores”.

Atualmente, a São Rafael é uma empresa líder no setor de refrigeração e se concentra em oferecer as melhores soluções e equipamentos de alta qualidade para seus clientes. A empresa conta com serviços de assistência técnica que funcionam todos os dias, oferecendo manutenção corretiva e manutenção preventiva, além de oferecer serviços de reformas e a venda de peças genuínas, garantindo a qualidade e eficiência dos equipamentos.

A empresa está presente em 12 países e atua em mais de mil municípios, com cobertura de serviço em todo o território nacional. Ao longo de sua trajetória, a São Rafael já realizou mais de 20 mil instalações de câmaras frias e possui mais de 2 mil clientes de redes e mais de mil clientes de varejo, o que demonstra a confiança e credibilidade conquistadas pela empresa ao longo de seus 116 anos de existência.

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